Minientrevista: Pedro Cobiaco

HQ de Pedro Cobiaco

 

Ontem a gente conversou com o Nunes e aqui está o bate-papo por email com o outro convidado da Itiban do sábado, Pedro Cobiaco.

Você fica de saco cheio de as pessoas falarem que você é muito novo?

Pedro – Haha, não fico não, porque não deixa de ser completamente esperado, né? No começo eu já sabia que ia fazer parte da coisa, e também sabia que muitas vezes meu trabalho ia acabar chegando nas pessoas (por boca-a-boca, pela mídia), inicialmente, mais por esse fator de idade do que pelo conteúdo. Mas eu sempre trabalhei meu conteúdo com cuidado extremo, pra que assim que olhos caíssem nele, percebessem que a coisa aqui é séria e que não é a idade e sim a qualidade o fator de maior importância no que eu faço. De qualquer modo, isso já tem diminuído, o que é normal: tenho 18 agora e tem sido bom ver que as pessoas aos poucos já não julgam mais meu trabalho e nem minha pessoa com aquela piedade exagerada que costumam destinar aos autores mais novos. No final das contas, tanto faz, sou novo mesmo, hahaha, e quem sabe, sabe & vai julgar meu trabalho sempre pelo conteúdo. As brincadeiras e tudo o mais eu não ligo, hahaha, acho divertidas, tamo nessa vida pra cair na farra.

O que mais te interessa ao fazer uma HQ?

Pedro – Difícil dizer. Perigosas essas perguntas, aliás, me fazem falar pra caralho, ó, fica aí abrindo espaço pra maníaco. Vamos lá. Eu sou um obcecado pelo que eu faço: cada mínimo detalhe do processo e do produto me interessa extremamente.

Me interessa o que eu vou descobrir de novo sobre quadrinhos enquanto faço aquela obra (desde as menores até as maiores descobertas), me interessa o que eu vou absorver de cultura fazendo minhas pesquisas pra cada trabalho, me interessa ir acrescentando nas minhas novas histórias tudo que eu tenho aprendido da vida desde as últimas (não que eu precise planejar, esse é o tipo de coisa que acontece naturalmente), me interessa tudo, de verdade. Talvez acima de tudo me interesse a verdade maior da história: a alma daquilo que eu tou contando, o sentimento que eu tou tentando espalhar por cada quadro de cada página, o cavalo que vai puxar toda a carroça, sabe? Me interessa o ritmo, sobre como às vezes ler uma história é que nem assistir um corpo respirando. Me interessa tentar destrinchar o que exatamente a minha alma tá querendo botar pra fora, fazer esse papel de ponte, de certa forma, e não só de criador, virar antena. Vejo que tudo que eu faço (tudo que é feito?) é uma alquimia de diversos pensamentos, ideias, conceitos, histórias, fatos, cenários, obras, tudo que eu vinha absorvendo nos últimos tempos, tudo isso transmutado numa espécie de sentimento-quimera que de alguma maneira vai encontrando, na minha cabeça, um jeito de se tornar uma coisa uniforme. Me dá prazer assistir, feito duplo, esse processo todo acontecendo em mim, comigo, na história. Ou seja: me interessa não só o processo de criação como também um estudo do próprio processo, hahah, da magia dele, de entender como ele se constrói, de desconstruir ele, trocar as peças por outras e ver se ainda funciona, o que vai sair de diferente no final? Me interessa me apaixonar pelas histórias que eu tou contando, pelos personagens, pelas falas deles, por mais que mesmo assim eu sempre tome uma certa distância calculista pra olhar com lupa e olhos rígidos tudo o que está errado, o que tá faltando, o que não flui, o que não faz sentido.

Sou apaixonado por fazer quadrinhos, e cada partezinha do processo pra mim é um mundo que merece ser desbravado à exaustão. Não existe nada desimportante, não existe nada que valha “deixar pra lá”. Acredito que essa paixão se compensa: quando a gente realmente doa tanto da gente numa coisa, não importa se as pessoas vão ou não ver cada detalhezinho subjetivo que a gente deixou de pista, não importa, elas vão se sentir tocadas pela coisa num geral, porque simplesmente não tem como falhar, não importa se elas veem tudo o que tá tocando elas, não importa mais a gente também, como autor. A obra tem vida própria e faz seu trabalho por conta. Talvez seja questão de se emocionar pra emocionar alguém. Não sei. Tá vendo? Adoro falar dessas coisas, me perco todo, hahaha, podia falar por anos do que me interessa em fazer quadrinhos. (espero só que em uns anos eu já saiba falar isso tudo de maneira mais sintetizada)

Pdero Cobiaco (foto de Rafael Roncato)

Três anos atrás, o que você pensava que conseguiria com HQ? Deu certo?

Pedro – Ah, três anos atrás, isso é tempo pra caralho, HAHAHA, nem lembro mais o que eu planejava. Devo ter conseguido sim, a coisa tá indo num ritmo bem bom pra mim, tou completamente satisfeito com meu caminho até aqui. Claro, tem uma coisa ou outra que eu sigo sonhando: viver do que eu faço, ser lido (essa eu tenho conseguido, dentro do possível, por sorte, mas o objetivo é ainda bem maior), e tem os objetivos fixos de sempre: continuar produzindo, fazer sempre a melhor história de todas até aqui. Tem uns objetivos novos aparecendo também, dos quais o que mais me interessa talvez seja o de incomodar, e o de derrubar muros. Mas a coisa vai ficando muito maior: acho que agora, já tem um bom tempo na verdade, a minha obsessão por CONSEGUIR alguma coisa em quadrinhos tem mais a ver com cada história em si, cada trabalho é todo um destrinchamento, uma guerra pra atravessar, um processo: tem a semente, o sonho, o planejamento, a desgraça, a parte que o motor arranca, o trabalho suado, a conclusão, a comemoração (a diferença de três anos pra cá é nessa última parte, que agora envolve cerveza, kaka). Não acredito muito em dar certo ou dar errado, além de tudo.

O que você mais evoluiu desde que começou: a narrativa, o texto ou o desenho? Ou essa pergunta não faz sentido?

Pedro – Ah, eu tenho trabalhado cada uma dessas coisas individualmente e em conjunto desde o começo, acho natural que elas evoluam juntamente. Acredito eu que tou bem em todos os quesitos igualmente. Acredito também que tou mal em cada um dos quesitos igualmente. HAHAH. Depende do ponto de vista. De qualquer modo, tá equilibrado. La lucha sigue!

Depois de Harmatã, o que vem?

Pedro – Tenho feito minhas histórias curtas e quadrinhos de uma página e publicado tudo no Quadrinhos Insones (página de facebook administrada pelo amigo e grande autor Diego Sanchez) e no meu tumblr. Tenho escrito poesia, tudo que eu achei digno de publicar tá lá no alaranja.tumblr.com. Quem sabe um dia isso tudo (os quadrinhos, os poemas) não vira papel, ia ser legal. Tem uma revista que tou editando com o grande amigo & sócio de sempre Jopa Moraes, daqui a alguns dias vocês vão ouvir mais sobre essa. Tou tambem trabalhando num livro, mas disso não falo mais nada. Tem uma poeta daqui que eu descobri (por indicação do Vito, meu amor, um bejo na bunda) há pouco tempo, a Priscila Merizzio, que diz que livros devem ser escritos em silêncio — tou adotando a filosofia. Quando a criança tiver feita, grito pro mundo todo. Até lá: vou só costurando.

O papo continua no sábado, na Itiban, 16h. Não perca, porra!

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3 respostas para Minientrevista: Pedro Cobiaco

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