Entrevista com o editor da Pé-De-Cabra

Sábado próximo (dia 10) vai rolar lançamento da revista Pé-De-Cabra aqui na Itiban (MAIS INFORMAÇÕES AQUI). Aproveitando o movimento, a Mitie conversou com o Carlos Panhoca, editor da revista.

Panhoca tem 28 anos, morou em um monte de cidades do Brasil e se estabeleceu em Curitiba há 6 anos. Teve seu primeiro trabalho publicado na revista Prego (e seu segundo foi selecionado por ele mesmo pra estreia da sua própria revista). No final de 2017 teve a ideia de criar uma revista de quadrinhos e afins e meteu o pé, a mão e o pescoço na massa. Abriu um chamamento no Facebook pra galera enviar seus trampos, sem dar um tema específico, só tinha que ser uma forma de manifesto contra toda e qualquer forma de poder, moral e bons costumes.
Depois da difícil tarefa de selecionar o material vindo de todos os cantos do planeta, ele chegou a 53 artistas entre novos talentos e velhos conhecidos do meio, em quase 100 páginas cheias de orgias visuais e humor apocalíptico.
É sua primeira experiência como editor.

Segue o papo:

Panhos, por que resolveu fazer uma revista?
Cara, acho que foi uma coisa que veio nascendo há um tempão em mim. Meu tio me deu muita revista dos anos 80 por que minha tia botou elas pra fora do apartamento. Animal, Udigrudi, Circo… O rolê todo. Aí eu tive contato com o quadrinho nacional, principalmente nos últimos 10 anos. Da Gibicon que o [Diego] Gerlach ficou hospedado em casa pra cá, eu tive um aprofundamento muito grande na HQ independente nacional e eu fui ficando chato em tudo que eu lia. Eu reclamo de quase tudo. As HQs coletivas sempre foram as minhas prediletas. Gibi Gibi, Samba, Prego, A Zica. Aí eu fui vendo eles morrendo e demorando cada vez mais pra sair. Quando rolou o lançamento da Prego #7 em Curitiba que o Alex disse que ia pra Portugal, eu notei que existia um vácuo e que muita galera ficou meio bolada com esse possível hiato. Talvez o nascimento seja aí; talvez seja com o Gerlach ficando em casa e me mostrando muito artista; talvez seja uma vez que falei bêbado com o Chico Félix. Vai saber.

Panhocudo, quais as dificuldades que rolaram durante o processo? Quem está por trás de tudo isso? Não vi nenhum agradecimento ou dedicatória …
Quem tá por trás é claramente o papai do chão! Se tivesse que rolar uma dedicatória eu deixava pra todo padre de colégio que eu estudei que me levou pro satanismo, mas ia ser um espaço que eu ia perder para publicar um artista a mais. Foi um processo de maldade. É um lance de aprofundar muito a separação da revista do círculo de amizades. Teve muito amigo meu que ficou puto porque mandou trabalho e não foi selecionado e ao mesmo tempo tem história do Victor Bello, que ninguém nunca viu e não tem nenhuma foto dele. Até onde a gente sabe, ele pode ser o Marcatti desenhando com a mão esquerda. E aí fica esse lance de “eu te empresto cincão toda semana pra você tomar cachaça e você não publica uma história minha”. Porra, é foda. Chegou mais de 200 trabalhos. São um pouco mais de 50 na revista. Tem de ser meio sangue de barata pra fazer uma seleção. Ao mesmo tempo teve muito trabalho fodido de bom que eu tive de deixar de fora por que achei que contrastava demais com todo o resto. No fundo, é meio que um esforço enorme pra encontrar uma unidade através de tudo que você gosta, passando por um filtro do que você curte.

Como foi o processo de seleção?
Foi foda. O primeiro trabalho que chegou foi racista. Eu me senti um lixo e reli várias vezes o que escrevi na convocatória. Depois foi chegando mais coisas de gente que eu botei muita fé e fiquei mais tranquilo. Até uma semana antes do prazo, eu tinha uma revista totalmente diferente. Dos 200 e poucos trabalhos que chegaram, mais de 70 chegaram no último dia. É muito difícil mesmo separar amizade de trabalhos que você gosta. Além disso, teve um rolê de ética. Você tem de separar o quanto você se apega às regras que você mesmo criou. Se você ler as regras da convocatória você vai ver que o mínimo é de meia página e mesmo assim o Pietro saiu com uma tira. Eu curto isso. As regras tão ali, o que eu espero é anarquia. Caio Gomez e Allan Sieber mandaram colorido. Teve gente fora de formato. Foda-se, eu me viro depois. Qualidade muito acima da lei.

Panhocão, tem uma galera mais famosona e uma galera mais nova nas páginas da Pé. Muita gente ficou de fora e/ou não entregou material no prazo (cite nomes)? Já tem material pra número 2? Já tão pagando pra entrar na número 2?
Teve muita gente nova que me surpreendeu MESMO. O Yuri era professor substituto do meu curso de alemão. O Falleiros eu conheci numa dark room. Teve três que entregaram depois do prazo, mas eu me recuso a falar o nome do Pablo Carranza, porque eu não sou X9. Teve gente que foi selecionado pra revista e depois não respondeu os emails pra mandar o PRÓPRIO NOME pra sair na revista. Aí acabou sendo cortado. Tem muito material foda que eu deixei de fora porque contrastava demais. A segunda edição eu pretendo fazer temática pra sofrer menos nesse processo. Se todo mundo manda tosqueira e você manda uma parada foda e reflexiva sobre algo sério, não significa que teu trabalho é pior. Como editor eu acabo ficando meio preso a analisar o conjunto de tudo pra não fazer uma colcha de retalhos. Eu tenho de fazer uma parada massa de se ler. O que não me impede de, como leitor, eu gostar do Lobo Ramirez e da Aline Zouvi. O lance de editor é bem mais além do que o que gosto.

Afinal, o que vc prometeu pra todos esses artistas além de muitos dinheiros?
Cada um deles ganha uma noite numa pousada minha no Caribe. Menos o Yago, que ganha um Torcida sabor Cebola. Além disso, eu prometi três revistas pra cada um, mas é só pra quando a polícia bater na porta deles eu não me sentir solitário em Piraquara. Pelo menos tatuador bom não falta.

Você acha que fazer a Pé-De-Cabra muda alguma coisa no mundo?
Depende. Acho que é sempre bom ter mais gente na correria. Eu sou um grande fã de correria. Desde a galera que abre o bar de forró, até a galera que faz algo que me identifico 10000%. Eu gosto de gente tentando fazer o rolê acontecer. Não acho que ninguém vai renunciar à presidência, ou que alguém vai matar o Alckmin, mas se alguém puder armar o Rafa Campos, eu agradeço. Além disso, eu acho que a galera de Curitiba é muito fragmentada. Numa escala menor, eu acho que conheci e aproximei muitos círculos que eram meio fechados. Sei lá, o Caldas, Mário, Chico, Pietro e o Theo todo mundo meio conhece. O Yuri, Ste, Marafigo, Samy…tanta gente que é foda e não se comunica com o resto. Tem muita gente foda. Espero ter conseguido juntar mais a rapeize. Sei lá.

Fale sobre suas influências para ter se tornado o Panhoca mais massa do universo.(Além daquela porra de dollynho).
Tem um Panhoca num reality show de churrasco. É um sobrenome desgraçado. Eu queria que meu pai tivesse me passado o Callegari do sobrenome dele. Acho que tem uns panhocas melhores por aí….
Acho que minhas influências vão desde revista Animal até “como nunca perder no jogo da velha” no YouTube. No final vou deixar de destacar as revistas que admiro muito: Gibi Gibi, Prego, Samba, Kowaslki, A Zica, Café Espacial, Kus, Stripburger. Tem tanta coisa… Eu sou um fã de correria.

Você tem ideia quem serão seus leitores?
Ainda não, mas espero que a gente não divida uma cela no futuro. Deve ser foda ver o cara avançar num papo “Seu canalha, você fodeu com minha vida”. Eu me defendo meio mal. Já fui esfaqueado duas vezes.

Pra quem você enviaria, de boa, a Pé-De-Cabra pelo correio com antrax ?
Com antrax, pro Temer ou qualquer um da galera do PSDB. De boa, eu queria mandar pra galera da Escória Comix. Acho que o Lobo cheiraria Antrax e faria um gibi fodão. Tem gente que parece imune demais ao mal. Acho que essa galera que escolhe o lado podre da parada, consegue absorver esse tipo de energia. Porra, você não consegue imaginar o [Luiz] Berger ou o Victor Valença sendo intoxicado.

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Uma resposta para Entrevista com o editor da Pé-De-Cabra

  1. Entrevista massa. Parabéns e sucesso.

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