Conversamos com Alexandre Lourenço

retrato

Autorretrato de Alexandre Lourenço

Batemos um papo com Alexandre Lourenço, pra já ir aquecendo o bate-papo de sábado com ele e a Bianca Pinheiro. Se liga:

Do que se trata Você é um babaca, Bernardo? Qual foi a vontade de fazer esse livro?

Alexandre – O livro conta a história desse cara, Bernardo que, quando sai pra trabalhar, sua cabeça se separa do corpo e anda (?) por aí pra fazer sabe-se lá o que enquanto o corpo é obrigado a lidar com as coisas do dia a dia… pegar ônibus, escritório, mercado, essas coisas.

Fica nessa até que ele conhece uma menina.

A ideia surgiu a partir de uma tira que eu fiz pro blog do Robô Esmaga (aqui) que mostra um corpo caminhando pra esquerda e uma cabeça indo pro outro lado. Chamei de “Segunda” e publiquei no blog em um domingo à noite. Acabei desenvolvendo aquela ideia. Acho que foi essa a vontade de fazer o livro. Pensar no que representa estar em algum lugar sem necessariamente querer estar ali.
Teve dificuldades em passar das  histórias curtas e em tela pra uma longa e impressa?

Foi bem trabalhoso. Tive que aprender a contar histórias longas. A desenvolver uma ideia. Isso tudo foi difícil. A tira se resolve com a ideia, com a história longa é preciso pensar o que fazer a partir dessa ideia. É uma abordagem bem diferente e bem interessante.

Foi importante também pensar que essa história era pra ser lida em papel e não no computador. Pensei em coisas que fariam sentido com a virada de página e não com a barra de rolagem do navegador. Acho importante tentar usar as características do lugar em que a história vai ser publicada, seja online, no papel, num mural ou numa camiseta…

Além de imaginar como uma história deveria ser pra funcionar nesse novo esquema, foi também fisicamente exigente desenhar umas 150 páginas usando um mesmo estilo e os mesmos poucos personagens que coloco no livro. No Robô Esmaga, nas histórias curtas que eu conto, tenho um convívio muito breve com quem aparece nas tiras e a forma que esses personagens são desenhados. Nesse livro, no entanto, achei importante tentar criar uma espécie de unidade visual que seja perceptível por todas as páginas. O que te obriga a manter um mesmo padrão gráfico durante todo o andamento do quadrinho. Muito cansativo mas, ao mesmo tempo, muito gratificante.

Como surgiu esse interesse por usar o branco da página? Há muitos momentos em Você é um babaca, Bernardo que você usa essa composição mais “vazia”.

Inicialmente, o uso do branco da página foi completamente estético. Quando eu comecei a desenhar as páginas, fui testando algumas formas diferentes de cenário até chegar ao visual que acabou no livro.

Mais pra frente, durante a produção das páginas, acabei usando o fundo branco pra representar o mundo do corpo do Bernardo. Quando revelo o que a cabeça anda fazendo, o cenário muda e as páginas perdem o fundo branco, se aproximando mais de um cenário tradicional, mesmo que razoavelmente artificial. Tentei criar um clima diferente também pra Gabriela, usando um fundo amarelado, similar ao do Bernardo.

Gostei da ideia de criar uma narrativa a partir do cenário. Muitas coisas que estão no livro foram percebidas durante o processo de desenho das páginas.

Tem novos projetos em vista? Pretende continuar trabalhando com digital também?

Eu tive que deixar o Robô Esmaga um pouco de lado por causa do prazo pra terminar o livro mas a ideia é voltar a publicar no blog com uma periodicidade decente. Aliás, desde semana passada já tem coisa nova. Já tenho algumas outras coisas prontas pra ir postando.

Além disso quero publicar alguns números do Gibi Sim Senhor no ano que vem. Com um formato um pouco diferente e com narrativas experimentais, pensando no impresso.

Quero continuar o Damasco, que estou desenvolvendo com o Lielson Zeni. Já temos dois capítulos publicados na revista Café Espacial espero conseguir fazer mais alguns em breve.

Comecei também a desenvolver a minha próxima narrativa longa que ainda não sei direito o que é.

Fale um pouco sobre a outra convidada da mesa, a Bianca Pinheiro

Admiro demais a Bianca. Inveja nela (não se preocupe, o sentimento é benigno) a capacidade que ela tem de criar climas dentro da narrativa. Isso é uma coisa difícil de se alcançar. Não é só o desenho, nem só o texto. Tem um pouco disso, com o andamento do quadrinho, a narrativa impressa. É uma coisa abstrata, uma arte sutil pra caramba e ela domina.
Pensando no Dora, publicado originalmente de forma independente e recentemente pela Mino, a história vai se desenvolvendo sem pressa e acaba se esgueirando pra todos os cantos. Você tem uma história de terror muito bem construída que te deixa tenso e apreensivo. Acho muito difícil encontrar essa característica tão desenvolvida em outros autores. A Bianca destrói. E ela consegue colocar esse tipo de complexidade em direções completamente diferentes. O tom aventureiro de Bear ou o suspense crescente de Meu pai é um homem da montanha. São uns 82% de muita admiração e só uns 18% de inveja. Nada com que se preocupar.

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