Ontem foi a Mitie e agora é a vez do Lielson apresentar sua lista de “leituras mais prazerosas de 2014”. Enquanto a dona da loja selecionou muito bem e listou 12 títulos, o piazão, muito mais sem noção, escolheu TRINTA.
(é muito estranho escrever sobre mim mesmo na terceira pessoa)
Todos os materiais foram lançados no Brasil em 2014 e eram inéditos, portanto, republicações fabulosas como Lôcas vol. 2 (Gal) , Do inferno (Veneta) e A pior banda do mundo vol. 2 (Devir) não entraram. O restante do critério é “curti a leitura”. A lista não está em ordem, embora a minha leitura favorita do ano tenha sido Cumbe, ali-ali com Tungstênio e Novela (que ano da Veneta, hein?).
Vale informar que não li alguns álbuns que poderiam entrar na lista, como Olympe de Gouges (Galera Record), Legião (Zarabatana), O mundo de Edena (Nemo), Vincent (LP&M), Yeshua (Devir), Grande sertão: Veredas (Globo), Canône gráfico -vol. 1 (Boitempo) e Talvez seja mentira (independente). Então, vamos lá!
Cumbe, de Marcelo D’Salete (Veneta): tem um elemento místico junto do histórico aqui que me pegou, sem falar na arte do D’Salete. Adoro o jeito que ele desenha água.
Tungstênio, de Marcello Quintanilha (Veneta): a brasilidade dessa HQ vai ao cerne das casas de subúrbio, não fica na vitrine do carnaval. E o que é compressão/descompressão do tempo narrativo que o Quintanilla usa?
Coração das trevas, de David Zane Mairowitz e Catherine Anyango (Veneta): esta adaptação do romance de Joseph Conrad faz tudo certo. Deixa o texto que tem de deixar e é feita com uma arte nublada, imprecisa e indistinguível. A melhor representação da selva de Kurtz e Marlow fora de sua cabeça.
O amor infinito que tenho por você e outras histórias, de Paulo Monteiro (Balão): este é um dos livros mais bonitos de 2014, com um lirismo cativante tanto na arte, quanto no texto. Ao final, as anotações do autor português revalorizam algumas das histórias.
Klaus, de Felipe Nunes (Balão): primeira graphic novel do piá Nunes, de 19 anos. Muita gente tá falando por aí “imagina quando ele for mais velho”. Não dê bola pra eles e veja o ótimo trabalho dele agora.
Duas luas, de André Diniz e Pablo Mayer (Giz): aqui, Diniz encontro um equilíbrio entre o realismo e o “místico inexplicável” na história do personagem que não consegue dormir. A fábula toma um coquetel realista, mas não perde o encanto. A arte de Mayer é foda.
A vida de Jonas, de Magno Costa (Zarabatana): quando eu li essa história sobre um boneco alcoólatra lá no começo de 2014, eu sabia que o ano de lançamento de HQs ia ser pesado.
Macanudo 7, de Liniers (Zarabatana): Liniers sempre é bom. Não conhece? Procure as tiras na internet e veja por si mesmo.
Aos cuidados de Rafaela, de Marcelo Saravá e Marco Oliveira (Zarabatana): safadeza familiar estilo Nelson Rodrigues com uma narrativa quadrinística genial.
Wimbledon Green, de Seth (A Bolha): primeiro álbum do Seth no Brasil já garante ele na lista. A HQ é uma espécie de falso documentário em quadrinhos sobre um misterioso colecionador de HQs.
A pior notícia, de Blanquet (A Bolha): arte em alto contraste em um livro estarrecedor. Top leituras macabras de 2014.
Kaputt, de Eloar Guazzelli (WMF Martins Fontes): se essa HQ não aparecer na lista de alguém é porque não a leu. Guazzelli transforma em quadrinho um de seus romances favoritos.
Os ignorantes – Relato de duas iniciações, de Étienne Davodeau (WMF Martins Fontes): um vinicultor ensina um quadrinista sobre vinhos; o quadrinista ensina o vinicultor sobre HQ. Daquelas obras cheia de frescor e novidade.
Parafusos – Mania, depressão, Michelângelo e eu, de Ellen Forney (WMF Martins Fontes): é incrível como as HQs autobiográficas de personagens com problemas de saúde conseguem nos trazer tantas novas ideias a partir de um mesmo modelo.
Quaisqualigundum, de Roger Cruz e Davi Calil (Dead Hamster): ficcionalizar a partir da vida e das canções de Adoniram Barbosa já é uma puta ideia. Quando bem executada é obra pra ler, guardar, emprestar, reler e dar de presente.
Risco, de Marcelo D’Salete (Cachalote): mais uma do D’Salete. Aqui, ele retorna pro ambiente urbano e manda um conto que podia estar em seu excelente álbum Encruzilhada.
Fim do mundo, de André Ducci (Arte & letra): uma narrativa sem palavras e de muitos detalhes com aquela arte fudida do Ducci. Estreia da Arte & letra nas HQs em alto nível.
L’Amour 12 oz, de Luciano Salles (Mino): a arte melindrosa de Salles em uma narrativa desmontada que pede um leitor atento. Exatamente contrário desse mundo cheio de opiniões ligeiras. Ótima estreia da Mino.
Malditos Designers, de Rômolo (Gato Preto): o humor do Rômolo (e seu traço) são muito particulares e eu adoro.
O golpe de 64, de Rafael Campos Rocha e Oscar Pilagallo (Três Estrelas): uma prova de que quadrinhos podem ser material de informação sem serem simplificadores ou chatos. No ano de passeatas pela volta da ditadura, livro essencial.
Saga – vol. 1, de Brian K. Vaughan e Fiona Staples (Devir): cansados de carregar prêmios nos EUA, os autores apresentam uma história muito antiga: o de um amor proibido que gera uma filha. O resto é perseguição e tentar se manter vivo. Os diálogos inteligentes e a construção da personalidade dos personagens são o grande lance aqui.
Novela, de Rafael Sica (Bebel Books): edição numerada de 12 gravuras avulsas que de alguma forma são uma HQ. Ah, os limites da linguagem. Ah, as HQs de Sica.
Fim, de Rafael Sica (Beleléu): um gibizinho pequeno pra ler o tempo todo, porque sempre tem algum detalhe ali que você não viu.
Captar, de Thobias Daneluz e Camilo Solano (independente): com cara autobiográfica, duas HQs sobre jovens vindos do interior pra morar em São Paulo. Lembrei total de meus tempos de faculdade em Curitiba com meus pais lá em Francisco Beltrão.
O quinto beatle, de Vivek J. Tiwary, Andrew C. Robinson e Kyle Baker (Aleph): a história de Brian Epstein contada de uma forma fantástica. Une Beatles e HQ e eu fui obrigado a gostar.
Dora, de Bianca Pinheiro (independente): uma história de terror cheia de dúvidas e “serás” que mostra toda a versatilidade da Bianca desenhando quadrinhos.
Bear – vol. 1, de Bianca Pinheiro (Nemo): a série de aventura da menina Raven e do urso Dimas é para leitores de todas as idades, não só pra crianças como o povo tem falado por aí.
Aâma, de Frederik Peeters (Nemo): ficção científica da boa que promete muito mais ainda. Peeters é o mesmo roteirista do maravilhoso Castelo de areia.
A invenção de Morel, de JP Mourey (LP&M): o livro de Bioy Casares já garantiria uma puta história, mas as opções narrativas com cores e repetições tornam esse álbum um daqueles pra se ler com muita atenção e aprender como se faz a bagaça.
Desenhos invisíveis, de Troche (Lote 42): é quase mais um livro de ilustração que uma HQ, mas as artes de Troche são fabulosas e muito únicas.
Ufa, 30! O que você achou?
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