Entrevista com Emilio Fraia e DW

Emilio Fraia e DW, por Renato Parada

Conversamos rapidinho por email com os dois autores de Campo em Branco, que estarão na Itiban no próximo sábado.

1) Como você enxerga a diferença entre escrever uma HQ e escrever prosa?

Emilio Fraia – Na HQ, o produto final não são palavras, mas desenhos. Pelo menos, no tipo de álbum que o DW e eu queríamos fazer. O tom, o ritmo, o significado: tudo passa pelos enquadramentos, o traço, a disposição das cenas, as sequências. Então, depois de discutir, rascunhar e pensar muito cada detalhe, era como se eu precisasse me retirar e esperar na sala ao lado até a página ficar pronta.
2) A recepção (crítica, público) de uma HQ é diferente de um livro de prosa (no caso, O verão de Chibo) ou de uma coletânea (a Granta)?

Emilio Fraia – O interessante desse projeto que une quadrinistas e escritores é que o trabalho pode ser lido tanto pelo público dos quadrinhos quanto pelo da literatura. É muito legal pensar nessa recepção dupla, ver o que chama a atenção de cada tipo de leitor. E isso também estava na nossa cabeça na hora de criar o álbum. Eu, por exemplo, durante algum tempo, pensei em colocar uma epígrafe no livro, de um escritor (“Melhor não assombrar velhos lugares e depois ir embora deles lamentando o que desapareceu para sempre”), mas mudei de ideia, achei que ficaria “literário” demais.
3) Campo em Branco teve um longo tempo de produção. De que forma isso influenciou o produto final?

Emilio Fraia – O fato da história não ter sido criada como um roteiro pronto e então, depois, desenhada, acho que isso teve um impacto, sim. Foi um caminho, longo, que possibilitou que a gente chegasse a determinado lugar formal e narrativo. Acho que o “Campo em branco” tem muitas camadas de leitura, e isso tem a ver com o próprio tema do álbum e com o que buscamos durante o processo criativo.
4) Você pretende escrever outros quadrinhos?

Emilio Fraia – Agora estou trabalhando num romance e num livro de contos. Talvez mais adiante, quem sabe.

Quadrinho de Campo em Branco

1) Você já tinha uma produção bastante grande de HQs independentes antes da publicação de Campo em Branco. Sair por uma grande editora (Cia. das Letras) mudou alguma coisa na forma em que você faz quadrinhos?

DW – Com certeza. Foi minha primeira experiência de produção longa e em parceria. No meu trabalho solo costumo ter como premissa uma narrativa que construo de forma intuitiva, que simplesmente flui, e cujo resultado é, às vezes, tão misterioso e multi-interpretativo pra mim quanto pra qualquer leitor. Neste caso foi diferente porque houve uma produção minuciosa, pensada nos mínimos detalhes (e por isso refeita diversas vezes). Queríamos induzir certas sensações e ter um cálculo mais ou menos aproximado de quais momentos da história seriam assumidos para uma interpretação mais aberta. Além disso trabalhamos com o genial André Conti, que me fez enxergar melhor o papel de um grande editor na construção de certos tipos de trabalhos, como este. Digo também que trabalhar na “oficialidade” de uma das maiores editoras do país me fez refletir bastante também sobre o independente.
2) Já tinha trabalhado com roteiristas antes? Como é essa relação desenhista-roteirista?

DW – Sempre preferi trabalhar sozinho, porque tenho mais interesse em criar as histórias do que no desenho em si, que acaba sendo somente uma ferramenta pra mim, não sou daquelas pessoas que desenha toda hora e que ama desenhar, rs. Mas tive outra experiência legal no Vigor Mortis Comics com o Paulo Biscaia e o José Aguiar escrevendo. Apesar de não preferir, devo dizer que é divertido trabalhar em cima do texto de outra pessoa, dá pra aprender muito.
3) Fala-se até hoje na “necessidade da criação de um mercado de quadrinhos no Brasil”, pra permitir a continuidade das publicações e a remuneração dos autores. Como você vê isso?

DW – Hmm, não penso mais sobre isso. Acho que um mercado tem se formado, se não no sentido monetário, no sentido do interesse, que pra mim é o mais importante. Mas eu não faço dos quadrinhos, nem mesmo das ilustrações, o meu ganha pão, então…Enfim, gostaria muito de ver amigos que se esforçam muito pra manter essa rede de interesse sempre ativa vivendo disso. Mas ouço essas conversas de “temos que criar um mercado e blablablá” desde que era moleque, pra quadrinhos e bandas e minha conclusão é que essas coisas só funcionam quando acontecem meio “sem querer”, com ocasional naturalidade.
4) Campo em Branco é o trabalho que mais o deixa satisfeito entre tudo que fez?

DW – Hmmm, Até agora acho que sim, hehehe, mas não necessariamente. Acho que o Campo é o que tende a ser o mais “bem sucedido”, quero dizer num sentido de se comunicar com o público. Colocamos muito coração nele. Mas tenho um carinho especial também até por trabalhos antigos, que não tiveram muita repercussão. De qualquer forma, o Campo é, sem dúvida, o trabalho que eu mais refiz páginas na vida, rs, tentando atingir algum tipo de quintessência em cada quadro/página/dupla de páginas. Sei lá, acho que é um dos poucos trabalhos que consigo olhar de cabo a rabo sem ficar irritado, rs.

Então é isso, pessoal. Sábado essa conversa continua na Itiban, a partir das 17 horas. Apenas venham!

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3 respostas para Entrevista com Emilio Fraia e DW

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