Depois de entrevistarmos Koostella e Galvão, chegou a vez de mostrar o bate-papo que o Lielson teve com o Pedro Franz. Tudo isso é um aquecimento pra quinta-feira, quando os 3 estarão na Itiban pra conversar com o público e autografar suas HQs.
Pedro é ilustrador e quadrinista e apareceu com seu projeto Promessas de amor a desconhecidos enquanto espero o fim do mundo, que está disponível gratuitamente na internet e impresso em 3 edições. Depois disso, fez uma revista MIL, pra Cachalote, adaptou o romance Ensaio do Vazio com outros 4 artistas e quadrinizou a série televisiva de Luiz Fernando Carvalho e Paulo Lins, Suburbia.
Conversei com o Pedro Franz na madrugada do sábado, e enquanto ele esperava um pão crescer, trocamos algumas ideias via bate-papo do Facebook sobre seu trabalho. Os saltos de horários são tanto dos cortes, quanto de pequenos ajustes pra tornar tudo mais legível.
23:00 – Lielson
vamos começar? como foi o contato pra fazer o Suburbia?
23:01 – Pedro Franz
O convite veio pelo Chico de Assis e Christiano Menezes, editores da Retina78. . Já havíamos trabalhado juntos em outros projetos (ilustrei o Corcunda de Notre Dame e tem uma HQ minha em um livro ainda inédito, mas que foi feito antes de Suburbia), e eles já fazem há bastante tempo a parte gráfica dos projetos do Luiz.
23:03 – Lielson
e como foi o contato com o Luiz Fernando Carvalho?
23:04 – Pedro Franz
Foi ótimo. Também gosto bastante do trabalho dele. O Paulo Lins eu só conheci depois, quando o livro já estava pronto.
23:05 – Lielson
você trabalhou com o quê pra fazer a HQ? roteiro, os episódios…
23:06 – Pedro Franz
Eu recebi o roteiro de todos os episódios e algumas fotos e à medida que eles iam filmando, eles iam me mandando mais imagens. A série tem oito episódios e definimos desde o começo que o livro teria 64 páginas e aquele formato, um pouco maior que o comum. Então uma questão importante foi encontrar uma forma que funcionasse para contar aquela história neste formato.
23:06 – Lielson
E o prazo era bom?
23:07 – Pedro Franz
O prazo era um pouco curto, pois queríamos lançar enquanto a série ainda estivesse no ar (não era uma obrigação, mas todos achamos que seria bacana). Trabalhei durante três meses nessa HQ.
23:08 – Lielson
Foi difícil isso? Achar esse caminho?
23:09 – Pedro Franz
Acho que foi interessante encontrar meios de contar aquela história. As primeiras páginas, por exemplo, resumem quase todo o primeiro episódio em um ritmo que é muito diferente do demais provavelmente eu não teria chegado a isso se não houvesse que trabalhar dentro de uma estrutura que não estou acostumado. Mas são algumas das páginas que mais gosto. E desde o começo eu quis separar essas duas realidades, ela antes e depois de chegar em Madureira.
23:14 – Lielson
tu tinha pensado em fazer algo com esse cenário antes?
23:14 – Pedro Franz
em que sentido tu diz cenário?
23:16 – Lielson
o subúrbio carioca, os bailes funks, a superdançarina…
23:18 – Pedro Franz
Provavelmente não. Tenho uma dificuldade enorme de escrever sobre o que não conheço e eu não conheço o subúrbio carioca nem os bailes funks direito.
O interessante também estava nisso: de poder contar uma história que me interessa, mas que eu provavelmente jamais escreveria. Rolou algo parecido com a adaptação do Ensaio do Vazio.

Página de Suburbia
23:20 – Lielson
como assim? E fala mais dessa comparação: qual é a diferença de adaptar da TV e da literatura…
23:22 – Pedro Franz
É estranho trabalhar com o texto de outro autor. E você precisa tornar aquele texto teu.
Quanto à diferença entre adaptar da TV e da Literatura: eu não me senti adaptando diretamente da TV, pois não foi uma adaptação do vídeo e sim do roteiro original, que ainda não estava filmado. O que, sim, foi muito diferente é que dessa vez havia um arquivo grande de imagens de referência dos atores, dos cenários e isso foi bem interessante.
Outro ponto acho que eu senti muita diferença foi com relação aos diálogos. Os diálogos do Paulo pareciam prontos para entrar no balão. Os diálogos do Carlos, que são da literatura, funcionam de uma forma muito diferente. Entende?
23:28 – Lielson
É a diferença entre algo enunciado por um ser humano e outro texto, lido na boca de um personagem de ficção. Isso mudou alguma coisa no jeito de fazer os seus diálogos, por exemplo?
23:30 – Pedro Franz
Eu gosto muito de ver a maneira como outras pessoas escrevem. Acho que isso sempre me influencia. E como normalmente escrevo roteiros que só eu e o editor (quando há) lerão, eles tem uma estrutura meio estranhas. É bom ler roteiros escritos por outras pessoas.
Mas gosto muito do jeito que o Paulo Lins trabalha os diálogos.
23:38 – Lielson
eu achei que o letreiramento do Suburbia tá especialmente caprichado. é pira minha ou tu deu uma atenção pra ele mesmo?
23:41 – Pedro Franz
A parte que mais deu trabalho foi a parte que é a Conceição narrando foi toda feita no pincel essa parte. E, cara, deu bastante trabalho. Mas eu me diverti demais encontrando diferentes maneiras de escrever as letras dos funks.
23:43 – Lielson
o Odyr disse uma vez que não se deve usar letra eletrônica e sempre fazer tudo a mão concorda?
23:44 – Pedro Franz
Concordo muito. Eu até acho que dá pra usar dependendo do trabalho do cara. No meu caso e no Odyr vai provavelmente ficar um lixo. Mas deve facilitar as coisas também.
23:46 – Lielson
o Ensaio do vazio e a MIL – Bukkake eram PB, Suburbia e Promessas de amor a desconhecidos enquanto espero o fim do mundo – Potlatch, em cores. O que gosta mais de fazer? (acho que vai dizer cor – hehehe)

Corcunda de Notre Dame
23:47 – Pedro Franz
HAHA.
Eu gosto de fazer o que acho que é mais apropriado pro trabalho, pra história.
Minha próxima HQ vai ser PB
23:48 – Lielson
o que está pensado daqui pra frete?
frente*
muitas ideias? independente ou com editoras?
23:51 – Pedro Franz
Já estou desenhando minha próxima HQ que é escrita pelo Tony Belloto e sairá pela Cia. dos Quadrinhos.
Enquanto isso tenho escrito um outro roteiro, que vai levar um bom tempo pra ficar pronto, mas que quero fazer devagar, tomando o tempo que precisa. Eu espero que ela saia pela Cia. também, se tudo der certo!
23:53 – Lielson
o que pensa do catarse? considera usar o crowdfunding pra essa nova HQ?
23:54 – Pedro Franz
Eu espero que ela saia pela Cia. também, se tudo der certo!
Mas sobre o Catarse, eu acho incrível por um lado e por outro acho que tem uma euforia muito grande.
acho que foi uma boa forma de autores independentes conseguirem financiar o seu trabalho e isso é excelente. Acho a ideia de apoio coletivo do catarse bastante boa, mas também me parece que funciona principalmente para projetos “comerciais” (ou seja: que o público compre) e me parece importante que os quadrinhos pensem políticas culturais que possam apoiar e tornar reais bons trabalhos que não sejam, por diferentes motivos, tão vendáveis. O problema é que além de termos poucos editais para os quadrinhos, os que temos parecem privilegiar o mesmo tipo de quadrinho que poderia também ter sucesso no Catarse.
00:26 – Lielson
cara, preciso ir nessa… vou colocar o lance no blog acho que na quarta e te aviso qd sair
abraço e valeu o empenho e a boa vontade
00:27 – Pedro Franz
abração
00:27 – Lielson
muito obrigado
mesmo
00:27 – Pedro Franz
eu que agradeço
—-
Então é isso, amanhã, 19h, quinta-feira, Koostella, Galvão e Pedro Franz na Itiban. Não se esqueçam!