Todo mundo ficou louco quando Chris Ware colocou à venda o seu Building Stories.
O autor é conhecido e premiado por obras de inteligente experimentalismo gráfico, e de dar uma bela torcida na linguagem das HQs. Mas nada do que ele fez antes se parece com Building Stories. Pra começar, não é bem um álbum, é uma caixa. Olha só:
Os leitores surtaram mundo afora. Quem der uma busca no Google por Building Stories, vai ver que aparece muita resenha e comentário (fui até a página 28 da pesquisa e depois desisti). Ainda olhando na internet, há vários vídeos no You Tube, fotos no Instagram e a multidão de conteúdo no Tumblr. Quase todos mostrando a caixa aberta e o seu conteúdo.
A obra de Ware é composta por 14 itens (além da própria caixa), que narram diversos momentos da história de uma mulher solitária que vive em um prédio. A solidão, os leitores de Jimmy Corrigan – O menino mais esperto do mundo (seu único trabalho editado no Brasil) já esperavam encontrar.
Esses mesmos leitores vão se lembrar da maneira pouco usual que Ware usa a página, mas Building Stories é ainda mais ousado. São diversos formatos de combinações de textos ilustrados, para serem lidos na ordem que o leitor quiser. A obra lembra duas experiências estéticas anteriores.
Uma, a mais óbvia, é no campo literário. Muitos autores usaram a ideia da leitura desordenada, Haroldo de Campos (Galáxias), Julio Cortázar (O Jogo da Amarelinha), Marc Saporta (Composition Nº. 1), B.S. Johnson (The Unfortunates). Pedro Franz fez isso com o segundo volume de sua HQ Promessas de Amor a Desconhecidos Enquanto Espero o Fim do Mundo.

Boîte en valise de Marcel Duchamp
A outra, que o próprio Chris Ware disse em uma entrevista, é a ligação com as artes visuais, mais especificamente, as boîte en valise. Marcel Duchamp fez uma espécie de museu em miniatura com caixas e malas de viagem, em que ele colocou 69 reproduções das suas mais importantes obras (inclusive A fonte) – essa ideia foi genialmente reelaborada por Enrique Vila-Matas em História da Literatura Portátil.
Mas existe uma outra coisa que encanta: a ideia de abrir aquela caixa e começar a puxar gibis dos mais diversos formatos, com uma anarquia juvenil de criar sua própria história. Building Stories alimenta o racional e o nostálgico do leitor. Pede a compreensão estética que dialoga com diversas artes e a ludicidade de ter 14 HQs pra ler. Só faltou uma delas em preto e branco pra colorir.
Pra ler e reler, de diversas maneiras, em muitos momentos. Pra guardar na caixa, tirar tudo pra fora, mexer, mexer e guardar de novo.
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