Carlos Henrique Schroeder escreveu um romance de prosa, sem “figuras”, em 2007, intitulado Ensaio do vazio, pela editora 7 Letras – leia o primeiro capítulo no Google books.
O livro teve repercussão, comentários e ganhou uma vida crítica. Em 2012, Schroeder resolveu relançar seu livro, mas dessa vez, como um álbum de história em quadrinhos.
Como são cinco capítulos que apresentam diferentes momentos do personagem Ricardo, a HQ Ensaio do vazio tem um artista diferente para cada capítulo. Embora todos os estilos sejam muito particulares e bastante diferentes entre si, há uma unidade: nenhum dos desenhistas usa um traço acadêmico ou de linhas precisas.
A história de Ricardo é de um jovem hedonista e egoísta, que teve sucesso nas artes visuais, regada a muito sexo, álcool e drogas. Com seu dinheiro, consegue comprar um mundo de glamour e etiquetas, por mais que nas entrelinhas haja uma podridão e um vazio de existência.
Nesse ponto, com essa trama que coloca o personagem na farsa de uma vida comprada, o traço da HQ mostra o lado sujo e riscado de tudo que acontece no mundo de Ricardo. É como se o texto de entrelinha estivesse refletido no traço.
Se a trama tem tudo para ser proibida em vestibulares, o seu ritmo draga o leitor. É impossível parar de acompanhar a história do protagonista, por menos que se goste dele.
A diferença entre as artes marca muito bem a quebra dos momentos temporais na história, e ajuda a contar, por meio dos diferentes traços, o que acontece.
O trabalho de Diego Gerlach tem um grande ritmo, com cenários carregados e personagens de traços limpos abre bem álbum, já acertando as expectativas sobre o que vem por aí. Em seguida, Pedro Franz traz um traço mais “sujo”, mantendo ainda marcas do lápis apagado.
Legal que um capítulo que tata do passado mantenha essas marcas pelas páginas, como que mostrando a operação da memória de escrever por cima das experiências já vividas.
Em seguida os dois convidados argentinos: Berliac cria diversas metáforas visuais que casam de maneira brilhante com o texto, enquanto Manuel Depetris desenha o capítulo mais colorido da HQ, mesclando pintura com desenho à lápis, gerando um efeito visual fantástico.
No último capítulo, a opção de Leya Mira Brander de trabalhar não com uma linguagem típica de quadrinhos, mas com uma mescla de texto ilustrado, HQ e tipografia gerou uma desaceleração no ritmo da leitura, justamente no momento em que a trama amarra todas as pontas, focando ainda mais a atenção do leitor nos acontecimentos.
Ao fechar do livro, aquela sensação de que se foi atingido por algo forte e de que é preciso um tempo pra se recuperar.
Ah, vale lembrar ainda que Carlos Henrique Schroeder, Diego Gerlach e Pedro Franz estarão em Curitiba na próxima semana. Leia a HQ e vá lá conversar com eles!
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