Pinóquio, de Winshluss, chega ao Brasil

No final do século XIX, mais exatamente em 1881, o escritor e educador Carlo Collodi começou a publicar semanalmente sua obra-prima folhetinesca: As aventuras de Pinóquio. Essa época, últimos anos do Ottocento italiano, foi marcada principalmente por uma Itália que tinha acabado de se reunir, um país portanto jovem, burguês, que precisava se educar moral e eticamente. Também foi quando o capitalismo começou a se espalhar na Europa e levava com ele a ideia de família como conhecemos hoje, de sacrifício, de trabalho e sobretudo de criança.

É sob os preceitos da época (a importância do trabalho como dignidade e o respeito aos aspectos morais caros à burguesia, a importância da pedagogia e da educação formal) que Pinóquio é construído: de um simplório pedaço de madeira passa a homem, frequentando a escola, trabalhando, sendo bom, não cometendo erros nem pecados. Era preciso educar as crianças.

Mas afora as questões históricas, Pinóquio do Collodi é uma grande obra literária, não é à toa  que se tornou um clássico universal. Livro de “vadiagem e de fome”, como diria Italo Calvino, Pinóquio é um dos raros livros do Ottocento italiano que flerta com um tipo de literatura fantástica e obscura que se fazia na época. Algumas cenas macabras, como o enforcamento do boneco (no final de um dos episódios, deixou os leitores da época perplexos porque a continuidade do livro demorou a ser publicada), ou a vila onde estariam todos mortos, dão ao livro um tom de que, disse também Calvino, Poe certamente ia gostar.

E são sobretudo esses aspectos macabros que o quadrinista francês Winshluss frisa na sua livre adaptação. Na obra de Winshluss, Pinóquio modernizado não é um boneco de madeira construído com amor por um fofo carpinteiro, mas uma máquina de guerra, construído por um Gepetto que espera se dar bem com sua invenção.

Pelas suas andanças no mundo, não é um circo que encontra, mas uma fábrica em que se escravizam meninos, um parque de diversões falido pela vaidade de seu pequeno rei,  doces apodrecidos, generais fascistas angariando garotos para a guerra. Os episódios, de uma variedade incrível de técnicas artísticas, são intercalados pelas crônicas de sua baratinha escritora boêmia, que faz as vezes do grilo falante: sua cabeça não é habitada por um exemplo a ser seguido, como o grilo da consciência, mas por um escritor bloqueado e meio perdedor.

Winshluss é conhecido como o ‘mestre do humor macabro’, várias de suas obras brincam com o bom-mocismo americano dos anos 50.

Pinóquio ganhou o prêmio de melhor álbum do Festival de  Angoulême de 2009 e já foi traduzido para vários países. A edição brasileira saiu pela editora Globo com uma ótima tradução de Carol Bensimon.

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